Pela primeira vez, os coros infantis das paróquias da nossa diocese tiveram um encontro. Foi a 5 de Fevereiro, no Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa, que reuniu mais de 200 crianças e adolescentes, com o Bispo Auxiliar D. Nuno Brás a destacar que “o talento deve ser posto ao serviço dos outros”.
O primeiro Dia dos Pequenos Cantores tinha terminado há breves minutos e, pela igreja de São Tomás de Aquino, eram muitas as crianças ainda a cantarolar a música ‘Amor Serei’, que serviu de hino a este encontro. Os mais novos preferiam entoar distraidamente o cântico ‘Sou de Cristo, sou feliz’, talvez por ter sido o mais ensaiado durante os ateliers. D. Nuno Brás, o Bispo Auxiliar de Lisboa que foi o impulsionador deste primeiro encontro diocesano de coros infantis, desdobrava-se em selfies e fotos de grupo com os vários coros participantes.
Foram 225 crianças e adolescentes, representando 17 coros infantis, que estiveram no primeiro Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa, que teve como tema ‘Serei Sal, Luz, Amor!’. “Somos capazes de cantar, assim com a nossa voz; precisamos de cantar também com a nossa vida. Deus, hoje, acabou de nos dar um talento a mais do que aqueles que nós temos; acabou de nos dar este talento tão grande que foi cantarmos todos, em conjunto”, salientou D. Nuno Brás, durante a Oração com que terminou o encontro. “Todos nós temos talentos! Os talentos são realidades que Deus nos deu para pormos ao serviço dos outros. Vocês, que aqui estão, têm um talento muito grande que é cantar. Isto significa que este talento foi dado por Deus para estarem ao serviço de todos. O talento de cantar precisa de ser posto a render”, acrescentou o prelado, desejando que este encontro se repita no próximo ano. “Se Deus quiser, cá estaremos daqui a um ano com mais coros infantis! Fazem favor de dizer aos vossos amigos que é muito bom cantar, uns com os outros, para Deus”, apontou D. Nuno Brás.
Mostrar os talentos
Impulsionar o desenvolvimento de uma rede de coros infanto-juvenis e promover a inter-relação entre grupos corais foi o objetivo deste encontro diocesano. “O balanço é muito positivo”, frisa ao Jornal VOZ DA VERDADE a maestrina Ana Isabel Pereira, da organização do encontro. “Esta iniciativa diocesana surge na sequência de um convite feito por D. Nuno Brás às maestrinas dos coros de pequenos cantores das paróquias de São Tomás de Aquino, Cacém, Loures e Mafra, que no ano passado tinham organizado o musical ‘Jesus, a sua missão’. Foi feita uma reunião entre o senhor Bispo e as pessoas do musical, juntamente com os responsáveis pelos pequenos cantores dos Jerónimos, onde foi sublinhado como seria bonito criar um Dia Diocesano de Pequenos Cantores, procurando também saber o que já existe no Patriarcado de Lisboa a este nível em termos de coros infantis e de que maneira nos podemos articular todos e crescer”, conta Ana Isabel.
Na tarde do passado Domingo, 5 de fevereiro, na igreja paroquial de São Tomás de Aquino, após o acolhimento, decorreu o aquecimento vocal. “Foi o ponto de partida, onde trabalhámos a técnica vocal, a respiração, a ressonância, o descontrair; depois, fizemos vocalizes, trabalhando vogais, o espaço na voz e todas essas coisas que queremos que ajude a um som mais bonito”, relata. Feito o devido aquecimento vocal, decorreram os ateliers com os pequenos cantores a dividirem-se em cinco grupos, consoante as faixas etárias: dois grupos dos 6 aos 9 anos, dois grupos dos 10 aos 12 e um grupo dos 13 aos 18 anos. “Dividimos assim precisamente porque as características vocais das crianças acabam por ser diferentes e o tipo de trabalho que podemos exigir é também distinto. Com os pequeninos, temos que variar muito nas estratégias, porque eles cansam-se com muita facilidade – uma hora de ensaio é um tempo em que estamos a pedir imensa concentração. Assim, procurámos juntá-los de forma a que as características fossem iguais em termos da maneira de estar e que eles pudessem aprender coisas diferentes, e penso que resultou muito bem”, descreve.
Como o Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa não pressupunha um concerto, a organização preparou uma Oração final, onde “todos partilharam o que tinham aprendido”. “O que não tinham aprendido, ouviram os outros a cantar, sempre na perspetiva de partilhar, de dar aos outros, de oferecer e mostrar os talentos”, frisa a maestrina.
Duas décadas de pequenos cantores
Desde há quase vinte anos que Ana Isabel Pereira se dedica aos pequenos cantores. Na sua Paróquia do Cacém, estávamos no ano de 1998 quando o então pároco, padre João Rocha, sacerdote Claretiano, a convidou para iniciar um coro infantil. “Tudo isto nasce para mim de uma visão do padre Rocha, que é muito bonita: é de pequenino que se vai plantando a semente, o saber estar, o saber cantar. Ou seja, começar pelos pequenos para eles darem frutos quando forem adultos e continuarem a envolver-se na Eucaristia desta forma, cantando”, refere esta maestrina. Desde o final do século passado que, nesta paróquia da Vigararia de Sintra, tem havido sempre um grupo de pequenos cantores. “Muitos dos que começaram até já casaram e já têm filhos”, graceja Ana Isabel, lembrando que “são já algumas gerações de pequenos cantores no Cacém”.
Ana Isabel Pereira, de 41 anos, é da Paróquia do Cacém mas, desde há três anos, é a responsável pelos pequenos cantores da Paróquia de São Tomás de Aquino, a pedido da sua amiga e antiga maestrina do coro, Jacinta Correia, que foi fazer Erasmus para a Alemanha. “O coro dos pequenos cantores de São Tomás de Aquino tem atualmente 15 elementos, entre os 6 e os 13 anos. Ensaiamos uma vez por semana, ao sábado, e animamos a Eucaristia dominical das 10h30, duas vezes por mês”, descreve a atual maestrina.
Questionada sobre a caminhada cristã das crianças que integram coros de pequenos cantores, Ana Isabel destaca a oportunidade da interiorização que é possível ser feita. “Eles aprendem a cantar vários cânticos que podemos usar durante a liturgia e, ao mesmo tempo, esta é uma maneira muito ativa de participar na liturgia, cantando, interiorizando as letras – mesmo que por vezes não percebam as palavras todas – e rezando a Palavra”. Os laços que se formam entre as crianças é outra dimensão destes coros, segundo a maestrina. “O grupo que forma o coro acaba por ser uma pequena família. A amizade e o cantar e tocar com amigos é sempre uma coisa muito boa, que faz criar laços especiais. São recordações que ficam e as crianças, à medida que vão crescendo, vão sabendo que prestar serviço é bom, é necessário, além de ajudar a tornar as celebrações mais bonitas”.
Evangelizar e rejuvenescer o rosto da Igreja
Casada e com uma filha, Ana Isabel é professora de Música, não estando actualmente a exercer porque está a fazer doutoramento em Ensino e Psicologia da Música. Sobre a importância da música em geral para o crescimento e desenvolvimento das crianças, a maestrina frisa que cantar “exige o envolvimento do corpo todo”. “É preciso trabalhar a postura, é preciso trabalhar a respiração, é preciso trabalhar a colocação das vogais, das consoantes, é preciso ensinar-lhes truques para eles ficarem com uma voz mais redonda, mais bonita. É dar-lhes uma outra consciência de que cantar, para ficar bem e ficar uma coisa una, não é algo assim tão fácil de fazer”, aponta. Neste sentido, com os seus meninos do coro, Ana Isabel procura envolver corpo, voz e movimento. “É ligar o som ao movimento e através disso trabalhar o corpo, eles sentirem-se à vontade com o corpo, conseguirem usar a voz e, ao mesmo tempo, irem descobrindo o potencial que têm, o tal talento de que falou o senhor Bispo durante o Dia dos Pequenos Cantores, e crescer a nível pessoal, como crescer naquilo que dão ao grupo”, acrescenta.
Aquando da atuação dos pequenos cantores, são muitos os familiares que “querem estar presentes nas celebrações eucarísticas” para ver e ouvir as ‘suas’ crianças. Para esta maestrina, os coros infantis podem ser entendidos, também, como uma forma de evangelização. “Muitos pais acompanham os filhos e veem à Missa – isso era, aliás, uma das coisas que o padre Rocha dizia, que quando temos crianças a cantar os pais veem sempre para ver o trabalho dos filhos e dar apoio”, salienta esta leiga, sublinhado igualmente “os muitos comentários positivos das pessoas que participam nas Missas animadas por coros infantis”. “Acredito que os coros dos pequenos cantores rejuvenescem o rosto da Igreja”, manifesta a maestrina Ana Isabel Pereira.
Chegar a mais coros infantis
A maestrina sublinha a vontade de fazer trabalho conjunto com todos os coros infantis da diocese. “O que se sente é que cada um está na sua paróquia, que acaba por ser um ‘mundo’ muito especial, e por vezes estamos a fazer um trabalho muito para nós, que as pessoas à nossa volta conhecem, mas não fazemos trocas de experiências, nem de reportório”. Sobre o trabalho conjunto de que fala, Ana Isabel dá como exemplos “a escolha dos melhores cânticos e os mais apropriados para os diversos momentos da celebração”, as “experiências de aquecimento vocal com as formas mais apropriadas para crianças dos 6 aos 9 anos, a partir dos 10 e para aqueles que já mudaram a voz” ou as “diferentes estratégias quando há idades muito díspares num coro, para não ser muito ‘seca’ ou infantilizado para uns e muito ‘difícil’ para outros”. Neste sentido, projeta também “um possível encontro ou jornada” dirigido somente a maestros de coros infantis, “para troca de experiências, de técnicas, de estratégias, de aprimorar o gesto”.
A organização do Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa assume “não ter conhecimento” de todos os coros infantis que existem no Patriarcado, mas mostra-se “muito satisfeita” com a adesão ao encontro, desejando chegar a mais grupos corais. Após as palavras de D. Nuno Brás aos pequenos cantores, onde manifestou vontade de que este encontro prossiga no próximo ano, Ana Isabel refere que o desejo, agora, é “construir caminho, ver o que falta, o que é preciso, como nos podemos ajudar”. Através do Jornal VOZ DA VERDADE, esta responsável pela organização do Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa deixa o convite aos coros infantis “para que se deem a conhecer”, uma vez que “o endereço de email dioceselisboa.puericantores@gmail.com vai continuar ativo”.
Coros participantes no Dia dos Pequenos Cantores da Diocese de Lisboa
– Achada (Mafra): 14 elementos
– Agrupamento 1246 (São Pedro e São João do Estoril): 5 elementos
– Agualva: 23 elementos
– Alcobaça: 18 elementos
– Algueirão – Mem Martins – Mercês: 11 elementos
– Cacém: 8 elementos
– Campo Grande (Lisboa): 17 elementos
– Externato de Penafirme: 8 elementos
– Igreja Nova (Mafra): 17 elementos
– Mafra (Mafra): 12 elementos
– Nossa Senhora da Conceição (Abóboda): 11 elementos
– Peniche: 11 elementos
– São Miguel (Queijas): 14 elementos
– São Pedro e São João (Estoril): 13 elementos
– São Tomás de Aquino (Lisboa): 14 elementos
– Silveira (Torres Vedras): 19 elementos
– Santa Maria (Loures): 10 elementos
Hino do Encontro: AMOR SEREI
Há uma terra que é preciso salgar
Um mundo inteiro para iluminar
E uma Palavra que há que gritar:
Deus é Amor! Ele só pode amar!
Sei que meus medos eu hei de vencer,
E que montanhas terei de mover!
Para mostrar ao homem todo o valor,
Dado por Cristo: a força do Amor!
Serei o Sal
Serei a Luz
Serei Amor!
Se como ovelha na fé me perder,
E como Tomé quiser ver para crer,
Corre atrás de mim, vem-me procurar!
Faz-me, Jesus, caminhar sobre o mar!
Serei o Sal
Serei a Luz
Serei Amor!
Grão de mostarda que vai germinar,
Pequeno Zaqueu pra quem vais olhar;
De trigo, semente que há-de morrer:
Um sinal de Ti, é o que quero ser!
Letra: Padre Hugo Gonçalves
Música: Carlos Garcia
texto e fotos por Diogo Paiva Brandão em A Voz da Verdade